quarta-feira, 31 de março de 2010

Everybody hurts...

As imagens podem ser fortes, mas acredito que não muito diferentes da realidade (e a realidade, como sabemos, ao final sempre se impõe). Vídeo importante para nos lembrarmos que certas fatalidades nem sempre se dão de maneira puramente arbitrária. Vale assistir e pensar duas vezes antes de sentar ao volante do carro após aquela "cervejinha" inocente...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Mais dinheiro, mais suicídio...

Saiu hoje na Folha de São Paulo artigo sobre dados demográficos relacionados ao índice de suicídio. Alguns dados são interessantes: parece que, além do elevado grau de urbanização e do isolamento nas grandes cidades, o poder aquisitivo também configura "fator de risco" para suicídio. Sabemos que países mais ricos têm taxas mais altas de suicídio. Em São Paulo, bairros localizados no centro da cidade (portanto mais ricos) apresentam mais do que o dobro de suicídios do que os bairros de periferia. Outra informação importante é que, segundo a OMS, nos últimos 45 anos o número de casos de suicídio no mundo aumentou em 60%.
Qual a dinâmica envolvida neste processo? Será que conforme ficamos mais ricos, nos sentimos mais deprimidos? A vida perde sua "graça" se podemos ter tudo? Será que o sujeito que mora na periferia e batalha dia após dia, cada centavo, pela sobrevivência dele e de sua família não pensa em desistir? O que move estas pessoas? Será que ter um sonho, uma meta realmente difícil para alcançar na vida é um fator que mantém estas pessoas firmes para enfrentar as batalhas diárias?
Penso que "resiliência" possa ser a palavra adequada para pensarmos sobre estas pessoas.
Ainda segundo o estudo publicado, ser solteiro também seria fator de risco para o suicídio. Não sei se existe estudo específico para abordar esta questão, mas costumo pensar que "grau de intelectualização" (ou capacidade cognitiva e acesso à cultura) também possa ser considerado um fator de risco.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Em Defesa da Ayahuasca

Desde o trágico ocorrido na madrugada de sexta-feira, 12 de março, tenho escutado certos comentários infelizes a respeito do uso ritualístico do chá de ayahuasca na tradição do Santo Daime.
Parece que as pessoas teimam em acreditar que “as drogas” (assim mesmo de modo bem generalizado e indiscriminado) são os grandes vilões da ordem e da paz no mundo. Na minha opinião, isto consiste em erro grotesco.
Em primeiro lugar, não existe uma entidade “as drogas” a que possamos nos referir. Simplesmente porque existem milhares de tipos de drogas e substâncias que podem atuar como “droga” no corpo humano. Impossível generalizar e colocar todas num mesmo balaio. Afinal, vamos lembrar que o cafezinho e o açúcar que vai nele também são drogas, uma vez que seus mecanismos de alteração de estados psíquicos são descritos cientificamente (o que em nossa sociedade, sabemos, confere a autenticidade desejada). Não pretendo nem entrar na polêmica dos medicamentos psiquiátricos prescritos de maneira indiscriminada por qualquer graduado em medicina, independente de sua especialidade. Está triste, melancólico? Toma um Prozac. Em tempo, no caderno de saúde da Folha de São Paulo do dia 25 de fevereiro saiu uma matéria informando que: “Um relatório com dados de 2009 divulgado ontem pela Junta Internacional de Fiscalização a Entorpecentes, ligada à ONU, revela que houve um crescimento no abuso de medicamentos, que, em alguns países, tornou-se mais comum do que o consumo excessivo de drogas ilícitas como heroína, cocaína e ecstasy juntas”. Para ler a matéria clique aqui.
Voltando ao caso da ayahuasca: O Daime costuma ser referência para muitos dependentes químicos como possibilidade de mudar de vida e abandonar seus vícios. Sabemos que “se encontrar” em uma religião é muitas vezes o que salva a vida de muitas pessoas que se encontravam em situações de dependência. O engano que as pessoas estão cometendo é considerar o chá da ayahuasca como simplesmente mais uma droga que “surta” as pessoas e pode causar inclusive assassinatos como o de sexta-feira. Será que é verdade? Pergunta: essas pessoas que soltam estas acusações conhecem de fato a ayahuasca? Já provaram o chá? Sabem a sua história? (que começa no Brasil antigo através dos rituais sagrados indígenas, estes povos conhecedores dos profundos mistérios da natureza). Antes de mais nada, é preciso saber o que faz o chá (o sentido original da palavra “saber” guarda a mesma origem etimológica de “sabor”, portanto é preciso saborear o chá para conhecê-lo antes de realizar qualquer julgamento, do contrário tudo o que for dito será puro preconceito). Aqui lembro-me de uma das frases de Heráclito que publiquei em outro post; dizia ele: “Pois cães ladram contra os que eles não conhecem”.
Glauco, assim como Lennon, Luther King, Gandhi ou Yitzhak Rabin (só os que me lembrei assim “de cabeça”) foi assassinado por um admirador. Alguém próximo, que o invejava secretamente e que provavelmente se sentia ameaçado pela atitude doce e amável de seu ídolo. Isto é humano! Uma face não muito agradável de se ver, mas ainda assim típica do homem. Afinal, não vemos tigres ou lagartos planejando assassinar seus semelhantes.
Não devemos perder de vista que, em ultima instância, é uma pessoa que comete o crime. Pois na hora derradeira, não é nunca a cocaína que aperta o gatilho, mas um homem (como eu e você). Acho isto grave! Este deveria ser o foco da preocupação. As drogas são muitas e com os mais variados usos, mas não são elas que devem ser julgadas por um crime. Quem mata, o faz porque tem ódio, raiva, inveja, abandono, desamparo, desespero, não porque é ou está drogado.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Glauco


Deixo aqui esta tirinha do cartunista Glauco, que foi brutalmente assassinado no dia de hoje em São Paulo. A vida é cheia de acontecimentos inexplicáveis...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mais um gol do Brasil!

Sensacional! Que notícia espetacular!
"Brasil supera a Alemanha na venda de carros!"
Acho que temos mesmo que comemorar, não é verdade?
Afinal esta é apenas mais uma entre as diversas categorias em que já superamos os germânicos, não é? Primeiro foi na área da saúde: quando passamos a oferecer, em nossa rede pública, serviços de qualidade superior a alemã para todos os brasileiros; depois foi na educação, quando reduzimos à zero o índice de analfabetismo, não? E agora na venda de carros! Segura o Brasil! Os Alemães que se cuidem!
Vejam o vídeo
Em determinado momento o repórter diz: "o desafio agora é manter o ritmo de vendas!"
Deveria dizer: "o desafio agora é fazer com que os carros consigam andar nas ruas!"

quinta-feira, 4 de março de 2010

Heráclito de Éfeso

Já ouviu dizer?
Na Grécia antiga, entre os anos 540 e 470 A.C. viveu um homem chamado Heráclito. Conhecido também pelo apelido de Skoteinós (o Obscuro), Heráclito é considerado um dos mais eminentes pensadores da era pré-socrática. É dele a concepção de natureza como algo que flui, que se transforma constantemente (na época, em oposição ao pensamento de Parmênides que considerava que tudo na natureza permaneceria sempre do mesmo jeito, sem se transformar). A idéia de uma natureza em constante transformação se relaciona com o conceito de physis, como já descrevi no post inicial. Foi Heráclito quem concebeu, também, o conceito de Lógos; que seria uma espécie de lei universal (e fixa) responsável em reger os acontecimentos naturais e que serviria de base para a harmonia universal.
É interessante pensar que Heráclito lançou as bases para boa parte de muita filosofia que foi desenvolvida ao longo desses dois mil e quinhentos anos depois dele. Em seus fragmentos encontramos as raizes de muitas crenças da ciência e filosofia dos dias de hoje.
Seu conceito de Lógos, por exemplo, inclui a idéia de que há uma "tensão" inerente ao movimento das coisas, responsável em manter a chamada "harmonia universal". Para mim, fica óbvia a aproximação entre este conceito e o de Wilhelm Reich ao considerar a existência de "couraças musculares"; que nada mais seriam do que anéis de tensões nos diferentes tecidos do corpo humano, responsáveis em manter a "harmonia do corpo".
Sem mais delongas, seguem algumas frases de Heráclito:
"Se não esperar o inesperado não se descobrirá, sendo indescobrível e inacessível"
"Lei (é) também persuadir-se à vontade de um só"
"O ético no homem (é) o demônio (e o demônio é o ético)"
"Natureza ama esconder-se"
"Pois cães ladram contra os que eles não conhecem"
"A todos os homens é compartilhado o conhecer-se a si-mesmos e pensar sensatamente"
(in: Os Pensadores. Os Pré-Socráticos - Vida e Obra. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1999. p. 81-101)

terça-feira, 2 de março de 2010

Devassa or not Devassa?

Desde o começo achei curiosa a escolha de Paris Hilton para posar de devassa num comercial de cerveja brasileira. Pensei: será que o Brasil não é capaz de fornecer um bom exemplar da "formosura tupiniquim" para desempenhar tal função? (O que entendo eu de publicidade? Não muito, confesso...) Ok, comercial rodado num dia e no outro já na telinha para deleite da população masculina nacional, que agora irá abdicar de seu apurado paladar cervejeiro para provar o novo sabor gringo.
Pois é, por incrível que pareça o comercial foi vetado pelo Conselho de Autorregulação Publicitário (CONAR). Por ser considerado sexista e desrespeitoso por algumas associações de consumidores e pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Só uma pergunta: os Srs destas entidades citadas acima já assistiram a outros comerciais cervejeiros que passam na minha tv?
João Pereira Coutinho, em artigo publicado hoje no jornal A Folha de São Paulo, trata desse tema. Em determinado momento ele diz: "Liberdade não é impor um único padrão de comportamento. Liberdade é, precisamente, não impor nenhum." Esta frase me fez pensar no conceito de liberdade. Sem dúvida alguma, algo extremamente complexo ao qual não vou me aventurar a explorar neste momento.
Gostaria apenas de concluir com outra citação, agora de Reich: "A miséria sexual da sociedade patriarcal baseada na economia privada é conseqüência da negação e da repressão sexuais que provocam, em primeiro lugar, fenômenos de estase sexual em todos os indivíduos a ela sujeitos, e por isso neuroses, perversões e crimes sexuais. Segue-se que uma sociedade que não pratica a repressão sexual não sofre - ou, segundo uma perspectiva histórica, por todo o tempo que ela não a pratica - de miséria sexual." (Reich, Wilhelm. A Irrupção da Moral Sexual Repressiva. Porto: Escorpião,1974.p.4)
Este acontecimento aparentemente banal pode servir de base para muitas discussões. O quê é liberdade? Em que medida somos realmente livres para expressar nossas opiniões ou ter a possibilidade de escolha entre assistir ou não ao comercial de cerveja, por exemplo. E como fica o aspecto sexual em uma sociedade que manifesta a todo o momento provas de sua inabilidade em tratar de tais questões de maneira saudável? Se insistirmos em atitudes repressoras estaremos contribuindo ainda mais para a formação de estases, neuroses, perversões e crimes sexuais em nossa sociedade.
Uma coisa é certa: Paris Hilton sempre dá o que falar...

segunda-feira, 1 de março de 2010

PsicoPhysis

Psicophysis?

Sim, psicophysis! Explico:

O prefixo psico vem do grego psyché e tem o sentido de alma, espírito ou intelecto. Physis, por sua vez, é outra palavra grega que servia para descrever o mundo material, físico. Para os pré-socráticos physis era relacionado ao ser. É muitas vezes traduzido como "natureza", porém na verdade se trata de um conceito ainda mais amplo. Physis é movimento, fluxo. Nas palavras de Heidegger: "Physis evoca o que sai ou brota de dentro de si-mesmo (por exemplo o brotar de uma rosa), o desabrochar, que se abre, o que nesse despregar-se se manifesta e nele se retém e permanece, em síntese o vigor dominante daquilo que brota e permanece". (Heidegger, Martin. Introdução à metafísica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978. p.44.)

Gosto da idéia de iniciar meu blog assim. Na realidade, pensar "psicophysis" é pensar o ser de maneira integrada, como na verdade ele é: corpo físico e espiritual em constante movimento... isto é o que chamamos VIDA!