segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ayahuasca e Depressão

Após o massacre realizado pela mídia rasteira e blogs pouco confiáveis, aos poucos textos menos preconceituosos, baseados em fundamentos mais seguros também começam a surgir. Sim, estou me referindo ao uso ritualístico/terapêutico das chamadas "plantas de poder", mais especificamente ao caso da ayahuasca. Saiu hoje no UOL matéria sobre o possível uso deste chá no tratamento de depressão e dependências químicas. Ao contrário do que foi dito em artigos críticos pouco fundamentados, existem diversos estudos científicos já realizados (e outras centenas em andamento) que indicam grandes benefícios no uso do chá feito a partir do cipó Banisteriopsis Caapi e da planta Psychotria Viridis. Por agir no sistema IMAO (inibidor da enzima monoamino-oxidase) o chá de ayahuasca produz um aumento na quantidade de serotonina disponível no cérebro (exatamente a mesma função desempenhada pelos remédios antidepressivos de laboratório). Pergunta: por que então a sociedade olha torto para os ayahuasqueiros enquanto se entope de prozac?

Outro artigo interessante foi o que saiu na Folha de São Paulo no dia 13 de Abril. Fala do uso terapêutico da psilocibina contra a depressão. A psilocibina é a substância presente num determinado tipo de cogumelo famoso também por causar alucinações (como a ayahuasca).

Povos indígenas sempre foram profundos conhecedores destas plantas. Em suas tradições mais antigas sempre incluíram tais "plantas" como forma de "medicamento". Os Xamãs de cada tribo eram as pessoas responsáveis por curar os enfermos de suas tribos. Curiosamente não encontramos relatos de depressão entre os índios de antigamente (é importante que se diga: antes dos colonizadores chegarem por aqui).

Em tempo, saiu hoje artigo na Folha enumerando os diversos efeitos colaterais dos nossos antidepressivos. Ganho de peso, tremor, diminuição da libido e insônia teriam sido subestimadas pelos médicos e pelas pesquisas realizadas com esses medicamentos. É lógico, se estas pesquisas são financiadas principalmente pelos mesmos laboratórios que fabricam tais medicamentos qual o sentido em destacar aspectos negativos de seus produtos? Entretanto, parece que tais efeitos contribuem consideravelmente para que os pacientes abandonem o tratamento; e isso os psicólogos acompanham de perto com os seus pacientes.

Hoje, em nossa sociedade "avançada", baseada nos princípios da ciência e da projeção de resultados, visando a evolução, o crescimento e o "bem-comum" temos um cenário interessante: de um lado os bur(r)ocratas corruptos de um governo de mentira aliando-se às multinacionais para construir um desastre ecológico-sócio-econômico-ambiental chamado Belo Monte e do outro, novamente (por que será que eles ainda estão aqui?), os índios brasileiros alertando para o grande erro a ser cometido. Pois é, eles não tem a ciência, não sabem o que falam, não estão interessados em crescimento econômico...

Então, me pergunto, por que raios os laboratórios ultramodernos estão interessados em desenvolver antidepressivos copiando os índios?

O futuro desta aventura é fácil de se prever: laboratórios americanos vão procurar patentear a psilocibina e a DMT (dimetiltriptamina) para uso em seus medicamentos (se é que já não o fizeram), os quais certamente serão mais eficientes principalmente por apresentar menor índice de abandono do tratamento, menos efeito colateral e que, portanto, serão comercializados com a propaganda de serem "mais naturais"...

Pois é. Tenho a impressão de que o Império do Prozac está com os seus dias contados. No final, será a cultura indígena (com seus métodos rudimentares e pouco "científicos") que fornecerá ao homem branco a cura de seus males...
Como bem disse um famoso e profético compositor baiano:


"...Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio."

(Um Índio, Caetano Veloso)

terça-feira, 13 de abril de 2010

A Usina de Belo Monte...

Ao menos quinze povos indígenas do Brasil se pronunciaram contra a construção da hidrelétrica. O Greenpeace também rejeitou o projeto. James Cameron, o famoso diretor de grandes sucessos de bilheteria do cinema americano (como Titanic e Avatar, por exemplo) também resolveu se manifestar contra. Enviou inclusive uma carta ao nosso presidente Lula. Cameron, que recentemente revelou ao mundo sua faceta "ecologicamente correta" ao compartilhar na mídia que sua casa está adaptada de modo a não produzir qualquer lixo (tudo é reaproveitado) e que seu veículo particular é 100% não poluente, deu entrevista para a revista Veja desta semana. Uma das questôes importantes que ele colocou sobre o polêmico projeto de Belo Monte diz respeito ao desafio em conseguirmos conciliar desenvolvimento econômico e preservação sócio-ambiental.
Concordo com Cameron. Acredito que o grande desafio que se coloca para a humanidade nos dias de hoje (e certamente para o futuro próximo) é justamente esse. Medidas arbitrárias e de poder não irão resolver para nenhum dos lados envolvidos (isto serve também para outras questões cruciais, como o processo de paz no oriente médio, por exemplo). Acordos e soluções inclusivas devem ser pensadas sempre. No mais vamos seguir nos agredindo perpetuamente...
Segue um vídeo interessante sobre a indignação indígena:

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Eu Estou Onde Estou?

Rüdiger Dahlke é um médico alemão nascido em 1951. Psicoterapeuta, com influências junguianas e corporais, é também autor de diversos livros. Entre eles, alguns que tratam sobre os benefícios do jejum e da meditação para a nossa saúde. Seu livro mais famoso, “A Doença Como Caminho”, tornou-se importante referência na área.
Em seu livro sobre a respiração, “A Respiração Como Caminho Da Cura”, Dahlke se dedica ao estudo da respiração e aos benefícios que trabalhos corporais envolvendo respiração podem ocasionar. Em determinado momento do livro, Dahlke nos alerta para a importância em desenvolvermos atividades cotidianas de maneira consciente (um dos pressupostos básicos para a meditação). Diz ele:
“Uma pessoa que se alimenta e movimenta com pouca consciência e não medita, praticamente não terá experiências com o fenômeno do fluxo de energias. Talvez ela só sinta que acontece algo digno de atenção no orgasmo, no qual infelizmente há um fluxo muito curto de energia. O seu sistema energético, portanto, é despercebido, negligenciado e também dorme o sono da Bela Adormecida, quase sem uso. Não utilizados durante anos, os canais aos poucos podem se fechar ou, pelo menos, já não são muito permeáveis” (in: Dahlke, Rüdiger. A Respiração Como Caminho Da Cura. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2009. p.29)
Creio que o primeiro passo para qualquer pessoa que deseja iniciar uma prática de meditação se resume, acima de tudo, em desenvolver esse estado de atenção específico que Dahlke se refere como “consciência”. Antes de sentar em lótus, fechar os olhos e (fazer um tremendo esforço para) “não pensar em nada”, deveríamos nos preocupar em agir de maneira atenta, com a atenção concentrada, em cada atividade banal que executamos ao longo do dia. Se tentar fazer isso, verá que o desafio é tremendo e o consumo de energia enorme. Em pouco tempo você se esquecerá deste desafio e voltará a agir “no automático”.
Isto porque o nosso cérebro atua de forma a poupar energia em atividades mais corriqueiras, por isso é que não percebemos muitas coisas as quais fazemos de modo automático, como dirigir ou escovar os dentes, por exemplo. A mudança em nosso modo de agir no dia-a-dia, visando nos tornar pessoas mais “conscientes” de nossas ações, exige esforço e leva tempo. Quem sabe, talvez, ainda não seja tarde...