terça-feira, 2 de março de 2010

Devassa or not Devassa?

Desde o começo achei curiosa a escolha de Paris Hilton para posar de devassa num comercial de cerveja brasileira. Pensei: será que o Brasil não é capaz de fornecer um bom exemplar da "formosura tupiniquim" para desempenhar tal função? (O que entendo eu de publicidade? Não muito, confesso...) Ok, comercial rodado num dia e no outro já na telinha para deleite da população masculina nacional, que agora irá abdicar de seu apurado paladar cervejeiro para provar o novo sabor gringo.
Pois é, por incrível que pareça o comercial foi vetado pelo Conselho de Autorregulação Publicitário (CONAR). Por ser considerado sexista e desrespeitoso por algumas associações de consumidores e pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Só uma pergunta: os Srs destas entidades citadas acima já assistiram a outros comerciais cervejeiros que passam na minha tv?
João Pereira Coutinho, em artigo publicado hoje no jornal A Folha de São Paulo, trata desse tema. Em determinado momento ele diz: "Liberdade não é impor um único padrão de comportamento. Liberdade é, precisamente, não impor nenhum." Esta frase me fez pensar no conceito de liberdade. Sem dúvida alguma, algo extremamente complexo ao qual não vou me aventurar a explorar neste momento.
Gostaria apenas de concluir com outra citação, agora de Reich: "A miséria sexual da sociedade patriarcal baseada na economia privada é conseqüência da negação e da repressão sexuais que provocam, em primeiro lugar, fenômenos de estase sexual em todos os indivíduos a ela sujeitos, e por isso neuroses, perversões e crimes sexuais. Segue-se que uma sociedade que não pratica a repressão sexual não sofre - ou, segundo uma perspectiva histórica, por todo o tempo que ela não a pratica - de miséria sexual." (Reich, Wilhelm. A Irrupção da Moral Sexual Repressiva. Porto: Escorpião,1974.p.4)
Este acontecimento aparentemente banal pode servir de base para muitas discussões. O quê é liberdade? Em que medida somos realmente livres para expressar nossas opiniões ou ter a possibilidade de escolha entre assistir ou não ao comercial de cerveja, por exemplo. E como fica o aspecto sexual em uma sociedade que manifesta a todo o momento provas de sua inabilidade em tratar de tais questões de maneira saudável? Se insistirmos em atitudes repressoras estaremos contribuindo ainda mais para a formação de estases, neuroses, perversões e crimes sexuais em nossa sociedade.
Uma coisa é certa: Paris Hilton sempre dá o que falar...

Um comentário:

Mariana Portela disse...

Querido, achei que o miniconto do meu pai cabia perfeitamente aqui:

MENTIROSOS ABJETOS

A TV estatal e um grupo de empresas decidiram fazer uma experiência sócio-antropológica e inventaram a marca “Silvana Atômica”. Foram produzidos anúncios mostrando festas, parques de diversão, piscinas públicas, sempre num clima de crescente alegria, quase descontrole, tendo como fundo musical um ritmo tecno, pesado, em cujo clímax surgia uma mulher sensualíssima, rosto em close, dizendo, a boca devassa, lambendo as sílabas: “Sil-va-na A-tô-mi-ca!” Entidades de proteção à mulher protestaram contra o tom licencioso dos comerciais; do outro lado, jovens universitários apoiaram totalmente o novo produto. Alguns consumidores entrevistados na rua disseram que já o haviam provado e o comprariam novamente. Outros garantiram que iriam à Justiça para proibi-lo. A atriz, devassa, que roçava nas sílabas ao proferir “Sil-va-na A-tô-mi-ca”, foi encontrada morta no saguão do seu próprio prédio, atingida na cabeça por um tijolo. A afirmação do governo de que tudo aquilo não passava de experimento, irritou os militares e a nossa incipiente democracia foi esmagada em menos de vinte e quatro horas. Em compensação, nos livramos do cinismo capitalista e das afrontas públicas.

Adorei essa ideia do blog! Espero que você continue postando!
Abração hahaha