segunda-feira, 15 de março de 2010

Em Defesa da Ayahuasca

Desde o trágico ocorrido na madrugada de sexta-feira, 12 de março, tenho escutado certos comentários infelizes a respeito do uso ritualístico do chá de ayahuasca na tradição do Santo Daime.
Parece que as pessoas teimam em acreditar que “as drogas” (assim mesmo de modo bem generalizado e indiscriminado) são os grandes vilões da ordem e da paz no mundo. Na minha opinião, isto consiste em erro grotesco.
Em primeiro lugar, não existe uma entidade “as drogas” a que possamos nos referir. Simplesmente porque existem milhares de tipos de drogas e substâncias que podem atuar como “droga” no corpo humano. Impossível generalizar e colocar todas num mesmo balaio. Afinal, vamos lembrar que o cafezinho e o açúcar que vai nele também são drogas, uma vez que seus mecanismos de alteração de estados psíquicos são descritos cientificamente (o que em nossa sociedade, sabemos, confere a autenticidade desejada). Não pretendo nem entrar na polêmica dos medicamentos psiquiátricos prescritos de maneira indiscriminada por qualquer graduado em medicina, independente de sua especialidade. Está triste, melancólico? Toma um Prozac. Em tempo, no caderno de saúde da Folha de São Paulo do dia 25 de fevereiro saiu uma matéria informando que: “Um relatório com dados de 2009 divulgado ontem pela Junta Internacional de Fiscalização a Entorpecentes, ligada à ONU, revela que houve um crescimento no abuso de medicamentos, que, em alguns países, tornou-se mais comum do que o consumo excessivo de drogas ilícitas como heroína, cocaína e ecstasy juntas”. Para ler a matéria clique aqui.
Voltando ao caso da ayahuasca: O Daime costuma ser referência para muitos dependentes químicos como possibilidade de mudar de vida e abandonar seus vícios. Sabemos que “se encontrar” em uma religião é muitas vezes o que salva a vida de muitas pessoas que se encontravam em situações de dependência. O engano que as pessoas estão cometendo é considerar o chá da ayahuasca como simplesmente mais uma droga que “surta” as pessoas e pode causar inclusive assassinatos como o de sexta-feira. Será que é verdade? Pergunta: essas pessoas que soltam estas acusações conhecem de fato a ayahuasca? Já provaram o chá? Sabem a sua história? (que começa no Brasil antigo através dos rituais sagrados indígenas, estes povos conhecedores dos profundos mistérios da natureza). Antes de mais nada, é preciso saber o que faz o chá (o sentido original da palavra “saber” guarda a mesma origem etimológica de “sabor”, portanto é preciso saborear o chá para conhecê-lo antes de realizar qualquer julgamento, do contrário tudo o que for dito será puro preconceito). Aqui lembro-me de uma das frases de Heráclito que publiquei em outro post; dizia ele: “Pois cães ladram contra os que eles não conhecem”.
Glauco, assim como Lennon, Luther King, Gandhi ou Yitzhak Rabin (só os que me lembrei assim “de cabeça”) foi assassinado por um admirador. Alguém próximo, que o invejava secretamente e que provavelmente se sentia ameaçado pela atitude doce e amável de seu ídolo. Isto é humano! Uma face não muito agradável de se ver, mas ainda assim típica do homem. Afinal, não vemos tigres ou lagartos planejando assassinar seus semelhantes.
Não devemos perder de vista que, em ultima instância, é uma pessoa que comete o crime. Pois na hora derradeira, não é nunca a cocaína que aperta o gatilho, mas um homem (como eu e você). Acho isto grave! Este deveria ser o foco da preocupação. As drogas são muitas e com os mais variados usos, mas não são elas que devem ser julgadas por um crime. Quem mata, o faz porque tem ódio, raiva, inveja, abandono, desamparo, desespero, não porque é ou está drogado.

2 comentários:

Unknown disse...

concordo em parte! Tem certas pessoas dependentes de alguma droga, que caminham no sentido contrário da vida! Estes encontram na morte uma solução ou matam para se drogarem mais..um circulo viciado por sinal...

Mari disse...

Amei seu texto. Sensato, bem escrito e fenomenológico, como sempre :)
Bom te ter na Blogosfera, querido!
Precisamos mesmo de mais pessoas que escrevam assim.
Beijinhos